3 de fev. de 2011

A Linguagem - Pensamentos Introdutórios

Arcângelo Buzzi, na sua obra Introdução ao Pensar, (17ª edição, Petrópolis, 1988) apresenta, em três capítulos, as principais funções da Linguagem: abrir e realidade, nos pôr na procura e nos propor a convivência. Os pensamentos a seguir são tirados desses capítulos:

1. Com a palavra se fundam as cidades, se fazem os portos, o exército e se governa o Estado (Górgias).

2. Moramos na tenda da linguagem. Nós e todas as coisas. Na linguagem não nos fechamos, não nos enclausuramos; abrimo-nos à percepção da realidade; entregamo-nos a muitas experiências; devotamo-nos a múltiplas aprendizagens. A linguagem é vendaval que nos sacode: é fogo que nos incendeia; é semente que nos faz crescer, florescer e frutificar.

3. Moramos na casa da linguagem e a todo instante convidamos as coisas a entrar e a morar em nossa companhia; todas as coisas, as próximas e as distantes; não menos as distantes, não mais as próximas. Na linguagem surge o mistério da proximidade e da distância.

4. O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo. (Guimarães Rosa).

5. Estamos na linguagem como o peixe está na água. Nadando, o peixe mora alegre no seu ambiente. Falando o homem também mora.

6. Na palavra terra, vemos a terra; na palavra água, vemos a água; na palavra fogo, vemos o fogo; na palavra amor, vemos amor; na palavra ódio vemos o nefando ódio (Empédocles).

7. O objetivo da armadilha para pegar coelho é pegar coelhos. Quando estes são apanhados, esquece-se a armadilha. O objetivo das palavras e dos nomes é transmitir o sentido do ser, a melodia da existência. Quando esta é apreendida, as palavras são esquecidas ( A via de Cuang Tz).

8. Cada palavra é musa discreta que nos convida à procura. Ao ouvi-la, importa escutar de que coisa está falando. A fala procura as coisas, convida-as a morar conosco, a entrar em nossa casa, a pôr-se à nossa mesa, a declarar elas mesmas o esplendor do seu ouro, o gosto do seu vinho.

9. A tinta de impressão enjaulava os pensamentos; eles não podiam fugir, assim como um dumbu não pode fugir da armadilha (McLuhan).

10. O templo é todo feito para entrar e estar junto. É convite. Quem nele entra, entra para escutar e entregar-se à coisa da escuta.

11. Na catedral da linguagem tecemos a convivência. Este espetáculo da terra é tarefa do Homo Loquens*. Cada som de sua voz e cada escrita de sua mão chamam à convivência. A escrita ensina as nuanças sonoras da voz humana, tanto quanto a imobilidade das estátuas, as nuanças imperceptíveis dos gestos. No som e na letra, a linguagem nos convida à convivência.

* Homo Loquens significa literalmente o homem que fala. É uma analogia ao Homo sapiens, acentuando o fato de que a fala é elemento de diferenciação do ser humano em relação aos outros animais.

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